Matilde Pinto Machado, Universidad Carlos III de Madrid

Manuel Pinto Machado (1943-2015)


Estava só quando partiu

Nesse día temido que, ao fim, chegou

Pois Deus, a quem rezei mas não ouviu,

Veio chamá-Lo e não me esperou

Matilde Pinto Machado, Dezembro 2015

 

Homenagens In Memoriam:

 

 

Setembro

Desde a primeira madrugada de Setembro que me achego, esperançoso e sorrateiro, à borda da varanda, olhando de frente o rio e o mar, mas de soslaio para a serra, lá longe.

Bem tento perguntar à lua, sempre viajante, ou às estrelas, paradas e a cintilar, o que se passa com o tempo, onde está a neblina e o cair da folha, onde se perdeu o arrepio de fim de tarde, porque se esborratou a luz mortiça, deste mês que não é mês, de fim de verão que não começou nem parece acabar?

Mas só o poeta, sensível como o orvalho da manhã, guardador da memória sem fim, é que, numa lua nova muito escura, me veio dizer a verdade: É que já não está cá o António e, por isso, Setembro fugiu. Não se sabe para onde, mas certamente para perto da música, para os lados da cor, para as bandas da arte, acompanhado da saudade, da tristeza, da perda.

Que se dane o Outono. Começa quando começar, naturalmente quando a lágrima já não for chuva. E mais em segredo confessou-me, que durante todos estes últimos anos, Setembro lhe disse que se chamava António.

Manuel Pinto Machado

(Texto em homenagem ao seu irmão António)

 

  



Updated January, 2020  
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